quinta-feira, 26 de março de 2020

D. Manuel Maria Gonçalves Zarco da Câmara
Notas biográficas:
                 D. Manuel Maria Gonçalves Zarco da Câmara nasceu a 10 de Maio de 1789 e veio a falecer em 16 de Novembro de 1825, na Índia, apenas com 36 anos de idade.
D. Manuel era filho do 3º. Casamento de seu pai, D. Luís António José Maria da Câmara com D. Francisca Teles da Silva. Seu pai era o 6º. Conde da Ribeira Grande, e sua mãe era filha de D. Eugénia de Meneses da Silva, 2ª. Marquesa de Penalva e a 6ª. Condessa de Tarouca e de Manuel Teles da Silva, 6º. Conde de Vila Maior, portanto, filho segunda da alta nobreza palaciana da altura, tendo como meio-irmão o 7º. Conde da Ribeira Grande e como meia-irmã a 1ª. Marquesa de Ponta Delgada.
Em 12 de Fevereiro de 1813, casa em Alcântara, Lisboa, no oratório do Palácio de seu sogro, com D. Maria Teresa de Jesus Melo, filha do 2º. Marquês de Sabugosa, bisneta do Marquês de Marialva, tendo na altura 23 anos de idade.
D. Manuel Maria Gonçalves da Câmara assentou praça com apenas 13 anos, juntou estandartes e foi reconhecido cadete em 1 de Março de 1802, tendo sido promovido a alferes em 15 de Agosto de 1805, a tenente em 6 de Dezembro de 1809, com 19 anos, a capitão com 21 anos, em 23 de Janeiro de 1811 e graduado maior em 1 de Junho de 1819, já casado. Dedicando, assim, como muitos nobres da sua condição, à carreira das armas. A 1 de Janeiro de 1820, através de um atestado do Conde de Barbacena, ficamos a saber que D. Manuel Gonçalves da Câmara, maior graduado do Regimento de Cavalaria nº 4, serviu debaixo das suas ordens com procedimento exemplar.
Segundo o seu próprio diário, estando em Lisboa em 1820, casado e com 3 filhos e sendo parente de todas as primeiras pessoas de Lisboa e portanto esperando todos dele uma representação correspondente à sua posição ligado ao serviço militar ”no regimento de cavalaria e “não sendo as minhas rendas mesmo junto com os meus soldos suficientes para a minha manutenção”, verificou que no Brasil pessoas na mesma condição auferiam muito mais sem que tivessem mais merecimentos e “instado por quase todos os meus amigos e parentes levou o que entendesse ir ao Rio de Janeiro para solicitar o serviço que o sustentasse e sustentasse a sua família”.
Assim preparou a sua partida na nau Vasco da Gama, rumo ao Brasil, procurando melhor sorte. Partiu no dia 25 de Fevereiro de 1820, ao encontro do seu irmão, o conde da Ribeira que estava no Brasil e que tinha prometido ajudá-lo. A viagem durou 51 dias, contudo, quando lá chegou o irmão já tinha falecido. Assim, dirigiu-se a sua Majestade e aos ministros de Estado, Tomás António e o Conde dos Arcos. Tomás António tinha na altura a seu cargo todas as pastas, excepto as da Marinha e Ultramar, mas pareceu-lhe não dar atenção alguma à sua exposição nem tão pouco as reflexões que fez sobre o desgraçado estado de Portugal. Ao invés, o Conde dos Arcos ouviu-o com seriedade e prometeu-lhe que procuraria emprega-lo ao serviço do Rei, pois, naquela época encontrava-se como Camarate da semana efectivo a Sua Majestade. O Conde de Parati, que foi por espaço de 3 anos seu colega no colégio de S. Paulo, em Coimbra, e que predispôs a colocar El – Rei em seu favor.
Nesta altura, o conde de Rio Pardo, que era Vice-Rei da Índia há cerca de 5 anos, queria sair da Índia, e solicitava ao Conde dos Arcos, seu amigo, que lhe permitisse vir embora. Assim, o Conde dos Arcos, pensou que agradaria ao amigo tira-lo de Vice-Rei e despachou Manuel da Câmara nesse serviço, como Capitão Geral da Índia.
Vinte e oito dias depois de chegar ao Rio de Janeiro, no dia dos anos de El Rei, foi publicada a nomeação de Manuel da Câmara como governador da Índia.
Em 12 de Junho de 1820, D. Manuel da Câmara recebe carta d’El Rei D. João, em que o nomeia Governador e Capitão Geral do Estado da Índia, com o título do seu conselho, com todas as honras, prorrogativas, autoridades, isenções e fraquezas.
Nessa altura partia para Portugal a charrua de guerra S. João Magnânimo, que depois devia voltar ao Rio com recrutas dos Açores e que iria buscar a sua família. D. Manuel solicitou, dessa forma, ao Conde dos Arcos vir buscar a família a Portugal, o que não lhe foi permitido, tendo a embarcação partido no início de Junho.
As alterações políticas em Portugal levaram ao atraso da partida da nau para a Índia e a 26 de Maio de 1821, Sua Majestade partiu para Lisboa. Entretanto chegou ao Rio a sua família, D. Maria Teresa e os seus filhos.
Finalmente, parte para Goa com a esposa, três filhos e uma criada com um filho, pois foi a única que os quis acompanhar, o que não agradou muito ao comandante da fragata Manuel da Costa, ter que levar a senhora, a criada e as crianças a bordo.
A viagem não foi fácil, pois para além de se indispor com o comandante, sofreram na viagem muitos temporais e ventos contrários, demorando 114 dias até avistar Goa, o que aconteceu em 26 de Novembro de 1821, tendo D. Manuel apanhado sarna e tendo a filha mais velha, D. Leonor apenas 6 anos de idade.
Mal chegaram, veio a bordo o escaler da Praça da Guarda, avisando que no dia 16 de Setembro de 1821 tinha havido uma revolução e que o Vice-Rei Conde do Rio Pardo tinha sido expulso do governo e instalada uma junta provisória. Esta propôs a D. Manuel da Câmara tornar-se presidente da dita junta.
Desembarcou de noite no cais de Maquinêr, sem qualquer ajuda ou transporte para os conduzir a uma casa que arranjaram para os acomodarem, não lhe permitindo a ida para o Palácio do Governo, nessa hospedaria só havia duas más camas para seis pessoas.
Desta forma, como se pode confirmar no referido diário, os tempos em Goa foram muito penosos e complicados.
Tentou D. Manuel da Câmara ouvir todas as classes e nomear um novo governo e resolveu o problema dos vários presos que a dita Junta Provisória tinha feito, sem terem culpa formada, entretanto foi-lhe permitido vir residir para o Palácio. (O Diário é muito minucioso a relatar todos os problemas ocorridos na Índia, bem como várias revoltas).
Após quatro anos de uma vida penosa a zelar pela manutenção dos direitos reais na Índia, faleceu, deixando sua mulher e filhos numa situação difícil e delicada para regressarem a Portugal.
Assim deixamos hoje aqui a imagem da primeira página do seu diário.
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