domingo, 12 de abril de 2020

Pandemias: 
Gripe espanhola ou pneumónica
           Numa altura em que tanto se fala em pandemias, e em que muitos recordam a gripe pneumónica, divulgando-se informações e factos sobre a mesma nas redes sociais que não correspondem às mais recentes investigações históricas sobre essa pandemia, vimos aqui falar-vos um pouco da pneumónica ou gripe espanhola.
A gripe pneumónica surgiu em três vagas sucessivas, entre junho de 1918 e março 1919. Teve uma curta duração, comparada com outras pandemias, uma vez que os seus efeitos se fizeram sentir em Portugal, durante dois anos aproximadamente. Caracterizou-se pela elevada morbilidade e mortalidade, essencialmente nos estratos jovens da população. Até à atualidade, pensa-se que terá sido a maior pandemia no mundo, após a peste negra e talvez a que mais mortos provocou na história da humanidade.
A pneumónica, muito pouco falada nas últimas décadas e quase silenciada, talvez devido ao facto de ter coincidido com a primeira grande guerra, superou largamente a mortandade produzida por esta, tendo ceifado entre 20 a 40 milhões de vidas em todo o mundo e afetado cerca de 500 milhões de pessoas, ou seja, um em cada três habitante do planeta.
O desenvolvimento tardio da história da medicina e da saúde, algo que se tem vindo a aprofundar, sobretudo já neste século XXI, permitiu que estas pandemias tenham ficado esquecidas e enterradas no passado. O interesse pela gripe espanhola foi incrementado após várias epidemias de gripe que se foram sentindo nas últimas décadas, nomeadamente, a gripe das aves, em 2005, e a gripe suína ou gripe A, em 2009. Estas levaram a que os investigadores se debruçassem sobre outras pandemias resultantes da mutação do vírus causador da gripe.
Qual foi a origem geográfica da pneumónica?
A origem é incerta e existem várias hipóteses: 
1 – Segundo alguns autores, ter-se-ia desenvolvido na Ásia, local onde se detetaram os primeiros casos entre as tropas francesas, em abril de 1918;
2 – Esta versão aponta para os Estados Unidos, concretamente para o estado do Kansas, tendo sido trazida para a Europa pelo Corpo Expedicionário Americano, espalhando por toda a Europa. 
3 – Alguns autores ainda defendem uma origem europeia.
A elevada mortandade deveu-se, essencialmente, à demora no diagnóstico do mal. Sendo a tuberculose uma das principais caudas de morte, na época, no mundo ocidental, levava a confusões no diagnóstico e consecutivamente no tratamento. No caso português não nos podemos esquecer que estávamos a recuperar de um surto de tifo exantemático. Em Portugal, nas primeiras décadas do século XX, várias doenças infectocontagiosas faziam-se sentir, nomeadamente, a febre tifóide, a varíola, entre outras. Assim, quando a “gripe espanhola” chegou a Portugal, em 1918, vivia-se um contexto de crise económica, social, política e ideológica. No nosso país, apesar de ainda não existirem números mais concretos e serem urgentes mais estudos locais sobre a mesma, estima-se que tenha provocado 130 mil mortes, o que demonstra uma taxa de mortalidade superior à dos outros países europeus. A rede de assistência médica da altura era muito frágil e esta pandemia abalou-a ainda mais, estimando-se que dizimou 2% da nossa população.

         Cf: Lima, Maria Luísa; Sobral, José Manuel – A epidemia da pneumónica em Portugal no seu tempo histórico. In ler História/73, 2018, p. 45-66;
             Esteves, Alexandra – O impacto da pneumónica em alguns concelhos do Alto Minho. In CEM n.º 5/Cultura, Espaço & Memória, p.165-181.
           Garnel, Maria Rita Lino – Morte e Memória da Pneumónica de 1918. In Sobral, José Manuel (org.) – A pandemia esquecida. Olhares Comparados sobre a pneumónica 1918-1919, ICS, 2009, p. 221-235.

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, pessoas sentadas e multidão

A imagem pode conter: pessoas sentadas e ar livre

A imagem pode conter: 2 pessoas, pessoas em pé e ar livre

Sem comentários:

Enviar um comentário