Gripe espanhola ou pneumónica (Parte III)
O apoio de civis ao Estado durante a gripe espanhola ou pneumónica:
Durante a segunda vaga desta doença, já referida em postagens anteriores, o Estado entendeu que não conseguia resolver todos os problemas e carências. Desta forma, Ricardo Jorge apelou à formação de Comissões de Socorros locais que ajudassem as autoridades sanitárias.
Salienta-se, assim, a ação da Cruz Vermelha em todo o País. Esta montou ou ajudou a montar vários hospitais provisórios, nomeadamente em Amarante, Vila Meã e Candemil, participou em missões sanitárias, instalou postos de socorros, providenciou médicos, enfermeiros, maqueiros e cedeu automóveis.
Em Lisboa, os escuteiros deram também apoio hospitalar. Nas cozinhas económicas, distribuíram-se aos convalescentes e aos mais necessitados esmolas e senhas.
Muitos médicos, por todo o país, se juntaram, quer prestando apoio médico, quer mesmo económico. Por exemplo, em Carcavelos, Alberto Amado, com o apoio de famílias ilustres, formou uma brigada sanitária para tratar os doentes de Cascais, tendo visitado uma média de 100 doentes por dia. O mesmo fez Pires de Lima na zona de Famalicão, aí, de 1 a 25 de outubro, terá tratado cerca de 505 doentes.
No Minho, criaram-se várias casas de isolamento a cargo das Misericórdias, com o apoio da Direção Geral de Saúde e de vários filantropos locais, como por exemplo, em Caminha.
Em vários concelhos foram adiados exames e atrasado o regresso às aulas como medidas preventivas. Em muitas igrejas cessou o culto religioso e, um pouco por todo o lado, eram queimados ramos de pinho, alecrim e eucalipto com o intuito de “purificar a atmosfera”, as ruas e casas eram lavadas. Suspenderam-se as ligações entre Portugal e Espanha.
Por todo o território português verificou-se, na altura, que o pessoal clínico era manifestamente insuficiente para acudir a todas as necessidades. À falta de profissionais de saúde, somou-se a falta de medicamentos e a escassez de vários produtos, como por exemplo, açúcar para os chás que se consideravam fundamentais na terapêutica da época e a falta de mostarda, utilizada na composição das mezinhas e substâncias medicamentosas com o que acudiam a estes doentes.
Várias escolas foram convertidas em hospitais, essencialmente em Lisboa, como por exemplo, o Liceu Camões e, em Alhandra, a respetiva escola.
Em outubro de 1918, a Direção Geral de Saúde impôs um conjunto de medidas profiláticas. No entanto, foram insuficientes.
Estas medidas foram as seguintes:
- Obrigatoriedade dos médicos comunicarem à Direção Geral de Saúde todos os casos diagnosticados;
- Criação de hospitais improvisados (um deles foi o Convento das Trinas, em Lisboa;
- Abastecimento das farmácias com remédios indispensáveis para o tratamento da doença;
- Controlo das migrações;
- Divisão dos concelhos em áreas médico-farmacêuticas;
- Mobilização dos médicos, incluindo os reformados;
- Sensibilização das populações para a formação das “Comissões de socorro”.
Contudo, a falta de médicos foi notória e gravíssima, muitas farmácias fecharam por falta de funcionários, tendo-se verificado várias mortes entre estes profissionais.
Tal como referiu Alexandra Esteves, “Por todo o país, romperam-se quotidianos, suspenderam-se mesteres, fecharam-se padarias, mercearias e outros serviços que garantiam o abastecimento das populações. A morte banalizou-se, os corpos amontoavam-se nas morgues, os enterros sucediam-se, o toque a finados parecia não ter fim. Até este também parou, pelo menos em algumas localidades, por decisão das autoridades, pois não se conseguia cumprir aquilo que Moisés Espírito Santo definiu sendo uma das funções do sino: a de fechar o tempo que cabe a cada um.”
Sobretudo em Lisboa, com o avolumar do número de mortos, tornou-se imperioso enterrar muitos em valas comuns, no cemitério dos Prazeres para as vítimas falecidas no Hospital das Trinas, no cemitério de Benfica para os mortos no Hospital do Rego.
Cf: Esteves, Alexandra – “O impacto da Pneumónica em alguns concelhos do Minho”; Sobral, José Manuel; Lima, Maria Luísa – “A epidemia da pneumónica em Portugal…; Garnel, Maria Rita Lino – “Morte e Memória da Pneumónica…”.
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