quinta-feira, 26 de maio de 2016

Sabia que... (sangrias)

SANGRIAS
As sangrias, vindas já desde a Grécia Clássica, sempre se realizaram no hospital da misericórdia de Penafiel, sendo na centúria de seiscentos chamado o barbeiro-sangrador ao hospital sempre que fosse necessário proceder a esta intervenção. Esta terapia servia para toda a amálgama de doenças e para toda a tipologia de doentes, a idade não contava, do recém-nascido ao velho todos se sangravam.
                   
Existiam três tipos de sangrias: a derivativa, a evacuativa e a atrativa. A primeira, mais usada, era praticada o mais perto possível da lesão, a segunda tinha como finalidade diminuir a quantidade total de humores e combater a acumulação excessiva, a terceira era efetuada numa região distante da lesão, uma vez que se acreditava que desencadeava uma força capaz de mobilizar humores da zona doente para o local onde se realizava a sangria.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Procissão do Corpo de Deus

Uma das procissões mais importantes, levada a cabo pela confraria do Santíssimo Sacramento, era a procissão do Corpo de Deus. Esta era a festa grande da cidade e do concelho, com uma existência secular. Não se sabe ao certo quando foi iniciada. António de Almeida teria colocado duas hipóteses, ou aquando da instituição da confraria do Santíssimo Sacramento, na capela do Espírito Santo, em 1540, ou na altura da mudança de paróquia de São Martinho de Moazares para a nova igreja matriz, em 1659. Por sua vez, Simão Ferreira, data-a da união das três paróquias, com a instalação do Lausperene na nova igreja. Em 1676, em capítulo de correição, já se referia que a mesma se deveria fazer segundo o costume antigo.


A procissão saía da igreja matriz, no adro da mesma encontrava-se à sua espera a Serpe com o seu juiz. Atrás, seguiam uns pretos vestidos de chocalheiros de serapilheira que tinham como função arrumar o povo para a mesma passar. Composta por vários bailes, que representavam os vários ofícios da cidade, a dança dos moleiros, dos pauzinhos, da retorta, dos ferreiros, dos turcos, do ermitão, entre outras.Para além destes, o estado de São Jorge com os seus cavalos, o carro dos Anjos com a figura de Penafiel, as cruzes das freguesias vizinhas, todas as confrarias e ordens da cidade, seguidas do clero, câmara e, por fim, o pálio com o Santíssimo Sacramento e a tropa que havia na cidade. A festa contava, ainda, com tourada.
            
Esta procissão demorava largos meses a preparar e competia ao senado da câmara nomear os vários representantes dos ofícios, bem como, verificar se as danças estavam conformes. A sua realização estava bem regulamentada e, como refere Teresa Soeiro, mereceu vários capítulos das correições seiscentistas.
                          
Nela estavam representadas todas as categorias sociais da localidade, os diversos ofícios, sendo que a nobreza e os mercadores acompanhavam com as suas tochas. Momento alto da vida de Penafiel representava um papel importante, quer pela visibilidade que assumia, quer pela confraternização que proporcionava. As nomeações do senado para os portadores das varas do pálio, das navetas e das lanternas eram sempre muito aguardadas. Quanto mais prestigiante era o lugar, mais prestigiado era quem o ocupava.
O mais antigo documento sobre a mesma, ainda existente, encontra-se no arquivo municipal de Penafiel e é o tombo das festas de Corpo de Deus, de 1657.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Exposição de Fotografia

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA
"Visões de Penafiel pelas lentes dos fotógrafos António Guimarães e Miguel Ferri"
23 de maio
15h30m
Arquivo Municipal de Penafiel
             

terça-feira, 17 de maio de 2016

Sabia que... (O cirurgião)

O CIRURGIÃO
O nome grego original de cirurgia agrupava todos os trabalhos efetuados em medicina, manualmente ou utilizando instrumentos, com vista à realização de operações internas ou externas, ou seja, tudo que envolvesse o mexer no corpo humano e que lidasse com derramamento de sangue. Até ao século XII, os médicos eram, também, cirurgiões, mas após essa data, as profissões separaram-se, ficando o médico com a análise das doenças e o cirurgião com as intervenções cirúrgicas. Desta forma, desde a Idade Média até ao século XIX, os cirurgiões, porque trabalhavam com as mãos, eram considerados em termos de escalão social abaixo dos médicos.                            
A sua profissão não exigia uma aprendizagem muito morosa, o que levava a que os seus serviços fossem menos onerosos e a que os hospitais e a população recorressem a estes profissionais de saúde mais frequentemente do que aos médicos. Como referem alguns autores, o seu domínio exercia-se no curativo de feridas, fraturas e luxações. Executavam, ainda, sangrias, extraiam tumores, colocavam ventosas, abriam abcessos e operavam hérnias. As fronteiras de atividade entre físicos e cirurgiões estavam bem estabelecidas desde o século XVII, pelo regimento do físico-mor do reino. 
O médico detentor do saber teórico, leitor de compêndios, observador de enfermidades externas e sintomas, deveria evitar o contacto com o sangue e os corpos. O cirurgião e o barbeiro-sangrador recorriam ao seu trabalho manual para limpar, cortar, sarar, extrair tumores, feridas e hérnias.
           

Só a partir dos finais do século XVIII e inícios do século XIX, a profissão de cirurgião começou a ser valorizada, aproximando-se da de medicina e os barbeiros-sangradores começaram a ser colocados de lado, em prol dos cirurgiões.
Até ao final do século XVIII, a formação dos cirurgiões era, essencialmente prática, exercendo numa primeira fase, como aprendizes com profissionais mais experientes, ou tendo lições no hospital real de Todos os Santos.
Ao longo do século XIX, o advento da anestesia e da assepsia contribuíram muito para que se acentuasse a importância da cirurgia. Como referiu Lycurgo Santos Filho, a cirurgia transformou-se num dos mais importantes ramos da Medicina, passando de essencialmente mutiladora a restauradora e conservadora. A anestesia e os conceitos de assepsia tornaram a profissão mais limpa e menos violenta e violentadora, evitando os gritos dos pacientes e o uso de força para segurar o enfermo que se operava.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Bonifácio da Cruz: Barbeiro-sangador


A necessidade de privar com um barbeiro-sangrador, levou a misericórdia, em maio de 1699, a aceitar como irmão de menor condição, Bonifácio da Cruz. No seu registo de aceitação, o escrivão da santa casa explicitou o motivo que os levou a aceitarem o barbeiro-sangrador. Bonifácio era oficial mestre barbeiro e sangrador, possuía tenda própria e seria de muito préstimo para os pobres que se curavam no hospital, bem como, para os pobres do rol, que se tratavam em suas casas. A sua admissão a irmão foi aprovada por unanimidade, mas com condições. 


A profissão de barbeiro-sangrador era considerada mecânica e causava uma certa repugnância aos estratos sociais mais elevados, pelo facto de contactarem com o sangue e humores corporais dos outros. 

Trazer este indivíduo para o meio dos nobres, clérigos, doutores, mercadores e donos de tendas de ofícios considerados mais dignificantes, como os violeiros, alfaiates, espingardeiros, tinha um objetivo bem preciso. A condição apontada pela misericórdia era que o mesmo acudisse ao hospital ou aos pobres do rol sempre que os serventes da casa o chamassem. 
            
Bonifácio da Cruz comprometia-se, assim, a trabalhar gratuitamente para a irmandade, que já não teria que pagar a um sangrador externo pelos serviços. O referido barbeiro-sangrador passava a fazer parte da mais importante e prestigiada confraria da localidade e relacionar-se-ia com a elite penafidelense. Ao servir gratuitamente os mais pobres, o barbeiro estava, por um lado a exercer uma atividade misericordiosa, a ser um benfeitor e esta atitude aligeiraria as suas penas, quando chegada a hora da morte e tivesse que responder perante Deus. Para além disso, estava a prestar um serviço gratuito a uma irmandade conceituada, que haveria de não esquecer os seus préstimos e numa altura de aflição podia valer-lhe. Por outro lado, conhecia mais pessoas, muitas abonadas que, quando necessitassem de sangrias, a ele haveriam de recorrer.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Sabia que... (praça de touros)

Sabia que ...
"Em maio de 1930, estavam adiantados os trabalhos de construção da Praça de Touros, que ia ser inaugurada pelas Festas da Cidade"?
          
"A Praça de Touros ficou nos «terrenos da antiga serração de madeiras, (hoje edifício do agrupamento escolar), fronteiriços à antiga Central Eléctrica (hoje quartel dos Bombeiros de Penafiel).
O projecto foi do desenhador Domingos Vilela. A Praça podia comportar 6.000 pessoas e foi construída de madeira."

Cf. FERREIRA, José F. Coelho - Anais de Penafiel II (1926-1950). Penafiel: Livrofiel, 2015, p. 157,

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Sabia que... (boticários de Arrifana de Sousa)

Sabia que ...
Na década de 60, do século XVIII, 4 boticários de Arrifana de Sousa forneceram remédios das suas boticas à Santa Casa da Misericórdia, para acudirem aos doentes do "rol" e aos doentes do hospital?
Estes foram: Manuel Vieira, que habitava e tinha loja na Rua Nova; Domingos Ferreira, Diogo Caetano Pereira de Magalhães, que, nesta altura, residia na Rua de Cimo de Vila, perto da Misericórdia, na 3.ª casa do lado esquerdo desta rua, numa morada de casas sobradadas com loja e quintal, arrendadas pelo valor de 10 mil réis ao ano, e António da Cruz, que residia na Rua das Chãs, artéria que ia do Quelho da Misericórdia a São Mamede, do lado esquerdo, numa morada de casas sobradadas com lojas e quintal.
                 

Por sua vez, Domingos Ferreira vivia na Rua Nova de Nossa Senhora da Ajuda, do lado esquerdo em direção ao Quelho da Santa Casa, também em casa sobradada com loja e quintal.
Assim, até 1750-1770, existiam no perímetro da igreja da Santa Casa 4 boticas:
Na Rua Nova; na Rua Cimo de Vila; na Rua das Chãs e na Rua Nova de Nossa Senhora da Ajuda.
Na localidade existiu, ainda, outro boticário de nome José Cláudio, que residia na Rua de São Mamede, que pensamos não ter chegado a ser fornecedor da Irmandade.
Os boticários, para se instalarem, escolhiam as ruas principais, onde circulavam ou passavam a maior parte das pessoas, pois estas seriam as possíveis compradoras.

Cf. FERNANDES, Paula Sofia Costa - O hospital da Misericórdia de Penafiel (1600-1850). Braga: Universidade do Minho, 2015. Tese de doutoramento policopiada, p. 506-507.